A evolução do conceito de família ao longo dos tempos
Quantas vezes já ouviu ou disse a frase “A família é tudo na vida”? Muitas, com certeza. A família ocupa um lugar muito importante nas nossas vidas, mas será que o conceito de família foi constante ao longo dos tempos? Ou também sofreu alterações? Foi o que fomos investigar.
Começamos pelo início. A palavra “família” tem origem no latim, famulus, que significa servo ou escravo doméstico. No contexto de escravidão na Roma Antiga, esta palavra designava todos os indivíduos submetidos ao poder de alguém dominador. Nesta época, a família era vista como uma unidade na qual o chefe de família, o pai, ou “pater famílias”, tinha autoridade absoluta sobre todos os membros, incluindo os escravos.
Na Idade Média, o conceito de família evoluiu. Essa unidade social, económica e política, passa a incluir uma estrutura religiosa, igualmente patriarcal. Dela faziam parte um conjunto específico de indivíduos: após o matrimónio, filhos e mãe estavam submetidos ao poder hierárquico do pai. Por isso, e por muito tempo, a palavra família foi associada, no Direito, a dimensões de deveres e de vínculo. E, também por isso, expressões como “homem da casa” foram ficando impregnadas na linguagem.
Durante a Revolução Agrícola, houve uma mudança significativa na economia e, como resultado, a estrutura familiar também mudou. As famílias eram tipicamente grandes comunidades unidas que incluíam várias gerações, e que viviam e trabalhavam em conjunto para suprir as suas necessidades.
Também a Revolução Industrial trouxe mudanças profundas na estrutura familiar. Com o aumento do trabalho assalariado, a ascensão das cidades e o crescimento do comércio, muitas pessoas mudaram-se das zonas rurais para as cidades, afastando-se das suas famílias alargadas. As famílias passaram a ser nucleares – compostas apenas pelo pai, mãe e filhos – e, como consequência, muitas pessoas sentiram falta do apoio e companheirismo outrora partilhado com os membros da família alargada. Para preencher este vazio, procurou-se nos amigos o apoio e amor que faltava. Este conceito veio reconhecer que as amizades podem ser tão fortes e significativas como as relações de sangue, sendo possível partilhar-se um nível equivalente de apoio emocional.
A partir do século XX, o conceito de família foi acompanhando os movimentos sociais, os avanços das ciências, das ideias e dos ideais, modernizando-se e atualizando-se. As mulheres emancipam-se, votam, empregam-se, educam-se e manifestam-se, e a necessidade financeira da família tornou-se menos dependente do, até então, “chefe de família”.
Já nas últimas décadas, a ideia do que constitui uma família tornou-se mais inclusiva e abrangente, com o aumento de famílias monoparentais, famílias mistas, famílias com pais do mesmo sexo, e famílias espalhadas pelo mundo. A família já não se limita apenas ao sangue e aos laços biológicos. Inclui também as pessoas que nos são próximas. Aquelas que têm um impacto significativo nas nossas vidas. Sejam os amigos de longa data, que nos conhecem como ninguém. Os colegas com quem partilhamos desafios e vitórias. Os vizinhos que estão sempre a uma porta de distância. Os professores, que dedicam a sua vida a educar-nos. Ou os farmacêuticos, que nos aconselham e ajudam nos momentos de maiores dúvidas.
Hoje, reconhece-se que as famílias podem assumir muitas formas diferentes, e que seja qual for a sua forma, família é feita de amor e afeto, apoio e proteção, atenção e cuidado.